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Sou cis e hetero, e quem se importa?

Updated: Jun 12, 2020


Na época em que eu era criança, nos terríveis anos 80, cresci ouvindo falar sobre a “guerra dos sexos”. Todo mundo com muito gel no cabelo (homens e mulheres), estampas geométricas coloridas (mulheres e homens) e Lycra metálica (geralmente mulheres). A época conturbada do feminismo tinha ficado para trás, e aparentemente as mulheres estavam conquistando o seu espaço no mundo. Não sei como era o resto do mundo, mas devo dizer que venho de uma família um pouco machista. Não no sentido de diminuir de forma ostensiva as mulheres, mas certamente de designar “coisas de homens” e “coisas de mulheres”. Durante muito tempo acreditei que era assim que devia ser, até quase o final da adolescência, talvez. Aos poucos fui vendo que a maior diferença entre homens e mulheres são mesmo as fisicas - eles não menstruam e elas têm muita dificuldade de fazer xixi de pé (embora nem todas). Essas diferenças físicas são fruto das ações dos hormônios que cada um de nós produz ou faz uso de outras formas, não necessariamente relacionadas a questões sexuais, como injeções de hormônios esteroides para aumentar a massa muscular, por exemplo. Para ser homem ou mulher, necessitamos desse complexo e delicado coquetel químico. As nossas inclinações sexuais já são outros quinhentos, e eu não tenho a menor condição de dizer como elas se processam porque acho que não é tão simples assim. De qualquer forma, acho que cada um de nós é atraído por características específicas, como a cor da pele, a altura, a proporção do rosto, o cheiro, a personalidade, o Q.I., a profissão ou a conta bancária, dentre outros. Isso é muito pessoal e não tem regra, como quase nada nessa vida tem. Independente de qualquer coisa, são afinidades nossas, que, a menos que sejam impostas (seja por nós mesmos ou pelo nosso “meio”), são escolhas, conscientes ou não.

Hoje em dia, a guerra dos sexos já está em parte ultrapassada, e deu lugar a outra guerra, a dos gêneros. Sem dúvida, um dos assuntos mais discutidos hoje em dia está relacionado a identificação com o próprio corpo e com a sexualidade dos indivíduos. Somos invadidos diariamente por notícias, manifestações, campanhas relacionadas a esse assunto. E, como aconteceu com todas as mudanças na história do mundo, há muito barulho. Barulho a favor, barulho contra, barulho do medo. Medo de que, exatamente? De “incentivar” as pessoas, em especial as crianças e adolescentes “que ainda não entendem” a serem transgênero ou homossexuais ou ambos? Ah, porque esses séculos todos proibindo esses assuntos serviu para fazer com que todos fossem cisgêneros e heterossexuais? Penso que não...

Esse assunto honestamente me irrita. Me irrita tanto quanto comemorações do dia das mulheres. Se há igualdade, não precisa ter diferença. Por que não há um dia do homem? Por que temos que lutar pelo direito dos negros, pobres, mulheres, homossexuais? Simplesmente porque em cada uma dessas “lutas” há um preconceito, há a detecção de uma diferença. Mas não estamos pregando a igualdade??? Gente, talvez eu seja burrinha, mas eu acho isso uma contradição tão flagrante e ridícula, que muitas vezes preciso ficar calada. Me diz, qual é a diferença entre ter um professor de matemática gay e um heterossexual? Os números são diferentes??? Ele vai falar sobre as aventuras sexuais e a vida particular na sala de aula? Então estamos assumindo que um heterossexual também fala sobre essas coisas dentro da sala de aula. Se for esse o caso, isso por acaso é normal?

Da mesma forma que eu não tenho nada a ver com a vida de ninguém, ninguém tem nada a ver com a minha. E daí se sou cisgênero e heterossexual? Qual é a diferença que isso vai fazer na sua vida? Não me obriguem a ser homossexual, que não os obrigarei a serem hetero. Pode ser? Cada um faz o que quiser, haja paciência. Eu tenho tantas coisas com o que me preocupar na vida, vou agora querer saber com quem e como fulaninho faz sexo? Zero saco. Talvez se eu fosse um homem trangênero e homossexual, eu me interessaria em saber a opção sexual da Miley Cirus, mas fora isso, não tem a menor utilidade. Nem sei se coloquei o exemplo direito, porque essas coisas acabam ficando super confusas e EU NÃO PRECISO SABER DISTO. Ah, mas Juliana, e as crianças... a menos que você seja pedófilo, não tem porque se preocupar com elas. Alguns adultos homossexuais viram os seus pais sendo heterossexuais quando crianças e isso não mudou nada. Ah, mas Juliana, e os adolescentes... já é uma fase tão difícil... mais difícil ainda com um monte de gente que não vive dentro da cabeça deles buzinando um monte de porcaria. Adolescentes vão fazer besteiras, umas mais graves outras menos (de preferência as menos, por favor, hehehe), mas isso define ser adolescente. A menos que você seja pervertido e queira saber o que os seus conhecidos adolescentes fazem dentro de quatro paredes, aconselho a deixá-los em paz.

Ah, Juliana, mas então a gente não vai falar nada, não vai fazer nada e vai deixar o barco correr solto? Não, vamos conversar, vamos educar, vamos aconselhar, mas não vamos criar uma ditadura, alimentar a paranoia ou o medo (que eu ainda não sei de que, mas ok). Não dá pra obrigar ninguém a ser quem queremos que eles sejam. Duvido que tenha alguém lendo esse texto que não tenha uma “receita da vovó” para curar o resfriado, um “remédio poderoso” para ajudar nos estudos ou “um creme mágico” para amenizar os sinais do tempo. Essas intervenções, apesar de serem usadas indiscriminadamente, são “normais”? Ou será que seria normal deixar o resfriado se curar sozinho (porque se cura), estudar direito, deixar a nossa pele em paz? Então não venham me dizer que “não é natural” ou, melhor ainda, “não é normal” ser isso ou aquilo, assim ou assado. Todos nós usamos coisas para mudar quem somos, de um jeito ou de outro, desde que o mundo é mundo. Sabem porque não tenho paciência para falar sobre essas coisas? Porque eu não acho que nada disso seja um assunto. Como eu disse, não tenho tempo pra perder falando dessas coisas, porque o que eu acho é que a gente deve ser feliz e que cada um sabe o seu jeito. Desde que a sua felicidade não interrompa a minha, podemos ser grandes amigos. Deixa eu ser cis em paz. E heterossexual. Que prometo que vou deixar você ser trans em paz. E homossexual. E também cis e, se você quiser, heterossexual. Ou qualquer das combinações acima. Independente de qualquer coisa, feliz. E, mais uma coisa, por favor não me dê os parabéns pelo dia das mulheres. A guerra atual é outra.

cis·gê·ne·ro (cis- + .gênero)

adjetivo de dois gêneros e de dois números

Relativo a ou que tem uma identidade de .gênero idêntica àquela que foi atribuída à nascença, por oposição a.transgênero (ex.: pessoas .cisgênero).

• Grafia em Portugal: cisgénero.

he·te·ros·se·xu·al |cs| (hetero- + sexual)

adjetivo de dois gêneros

1. Relativo a heterossexualidade.

adjetivo de dois gêneros e substantivo de dois gêneros

2. Que ou o que sente .atração ou interesse sexual pelo sexo oposto.


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