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Maternidade e infância

A maternidade é uma jornada cheia de sobressaltos, mudanças de rota e diversas paradas para reabastecer através do caminho mais incrível que ninguém consegue imaginar existir antes de vivenciar. Desta vez vou deixar de lado a parte da vida prática, da dificuldade de conciliar TUDO, do renascimento da mulher (e do homem) depois dos filhos chegarem e vou me concentrar em algo que tem sido mais marcante para mim no último ano: a minha infância.


Não, não foi erro de digitação. Estou mesmo me referindo à minha infância. Àquela que deixei para trás há muitos anos, que foi aos poucos se transformando e amadurecendo até a mulher que sou hoje em dia. Aquela da qual ainda guardo alguma coisa, mas confesso que muito pouco. Algumas coisas quero esquecer, de outras esqueci por completo mesmo sem querer. Na verdade, não é bem em relação à infância de outrora, mas a uma nova versão dela, a que a minha filha me dá a oportunidade de vivenciar.


Independente de como qualificamos a nossa vida, todos nós temos coisas boas, menos boas e também ruins para contar sobre quando éramos crianças. Medos, amigos, histórias reais ou inventados. Obviamente não é possível reviver ou mudar o passado, mas posso convidar a minha infância para participar da infância da minha filha e de certa forma reescrever a minha história. E assim faço.


Com a minha filha fui à primeira aula de natação e, pasmem, gostei. Com ela aprecio a natureza, que curti muito pouco quando era pequena por ter morado grande parte da minha vida em apartamento. Caio no chão sem me preocupar com a minha aparência, choro sem prazo para parar, como chocolate sem me preocupar com a balança, danço na chuva como nunca antes. Canto no meio do supermercado como se estivesse sozinha no banheiro. Sei que ela vai passar pela adolescência e chegar à idade adulta um dia e que, se tudo correr como o planejado, eu estarei lá também. E sei que neste momento ela se preocupará com todas essas coisas. Mas deixemos o amanhã para amanhã.


Hoje quero correr pelo parque sem me preocupar se vou ficar descabelada ou se vai sair baba voando pelos ares, quero ver uma joaninha e achar que vi o ser mais bonito do mundo, quero ficar encantada quando um gato me deixa fazer carinho nele, olhar para um arco-íris como se fosse um grande tesouro sem me preocupar com o pote de ouro no fim dele. Quero tropeçar e cair na grama e achar que estou sentindo a pior dor do mundo, e ter alguém para me dar um abraço reconhecendo que sim, realmente é a maior dor do mundo. E ficar mais tranquila sabendo que, afinal, dou conta desta dor. E nessas situações converso mesmo com a minha eu infante, digo a ela que não precisa se envergonhar por ter quebrado o brinquedo quando a intenção era só descobrir como ele era feito, que não há problema nenhum em chorar pelo leite derramado. Porque aos poucos o entendimento sobre a vida vai chegando e ao mesmo tempo vai tirando toda a sensação do fantástico, já que tudo começa a fazer sentido.


Então finjo que nada faz sentido, que tudo é novidade, que preciso testar tudo de novo. Porque, sei lá, vai que. Vai que com o acúmulo de conhecimento não acabei enrijecendo a verdade? Qualquer problema eu posso sempre justificar que era só para ensinar a minha filha, e que a partir de agora ela já sabe o que dá certo e o que não dá. Mas também confesso, faço isso porque a lógica exercitada ao longo da vida, junto com o conhecimento acumulado, me permite sair de enrascadas com maior facilidade, nem que seja quando estiverem todos dormindo. E a vantagem é que no dia seguinte tem mais.


Que neste dia das mães você que é mãe consiga tirar um tempo da vida real tão atribulada e deixar o cansaço de lado para poder voltar a ser criança. E, caso você não seja mãe, não tem problema. Pode usar este texto como desculpa para testar a minha hipótese e voltar a ser criança também, mesmo que seja só por um dia. Feliz dia das crianças! Opa, quero dizer, feliz dia das mães!


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