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Como está o tempo para você?

Updated: Feb 23, 2021

Nasci e cresci no Rio, onde só tínhamos duas estações: verão e mais verão. Lembro-me muito bem de estar no banho e suar ao mesmo tempo em que a água do chuveiro me lavava. Lembro com uma pontada de angústia de quando tinha uma festa para ir à noite, e tinha que sair do banho, já suando, e encarar o secador de cabelo. Já tinha uma rotina: tomava um banho pra limpar tudo, secava o cabelo e depois voltava pro banho com uma touca pra lavar o suor de todo o processo. Mas... suava de novo quando estava me arrumando e invariavelmente saía de casa com o vestido bonito levemente úmido de suor. Isso tudo mesmo quando tinha ar-condicionado.


Depois que saí do Brasil, sempre que voltei (em qualquer estação do ano), sentia aquele bafo de umidade quente dentro do aeroporto, na área das bagagens, e aquelas memórias me afogavam (em suor) novamente. Lembro-me de sempre reclamar, porque além de ser desconfortável tanto calor, o fato de suar abundantemente não contribuía para o meu bom humor. Ainda mais sendo mais nova, é bem desagradável estar sempre pegajosa de suor ao cumprimentar conhecidos (e desconhecidos).


Por outro lado, tenho uma conhecida que mora em um dos países nórdicos, e está constantemente reclamando do frio e da neve, de como os dias cinza a fazem se sentir deprimida e fisicamente doente, de como ela tenta “enganar” o inverno comprando flores para a primavera, e como eu fazia com o verão carioca, reclama quase todo santo dia do inverno setentrional.



Justo, pensam alguns. Exagero, pensam outros. O fato é que quando eu era mais nova, eu não tinha as ferramentas que tenho hoje para dialogar com a ansiedade. Diálogo recorrente na minha vida e meus textos hoje em dia. Eu sempre fui da filosofia de falar abertamente sobre o que sentia e pensava, o que para mim funciona muito bem até hoje, mas não entendia a diferença entre se abrir para conseguir trabalhar alguma questão e simplesmente falar o que vinha à mente de maneira repetida, o que acabava sendo em vão, e potencialmente me deixava ainda mais insatisfeita com a reiteração de um problema qualquer. Não, não ajudava, agora vejo.


Existe uma música muito bonita de um grupo de rock australiano chamado Crowded House (Weather with you), cujo refrão diz “onde quer que você vá, levará o tempo com você” (everywhere you go/always take the weather with you) - escutando a música enquanto escrevo estas linhas! Uma professora minha durante a especialidade me disse algo semelhante quando disse a ela que queria sair do Brasil: não importa pra onde você vá, “você” vai junto. Eu sempre digo que precisei sair da minha zona de conforto para me achar, e é verdade. Mas escrevo este texto para dizer a quem interessar possa que podemos nos encontrar mesmo dentro da nossa zona de conforto. Sim, muito mais difícil. Mas possível.


Ou seja, a nossa percepção influencia diretamente em como ou quanto os fatores externos impactam na nossa vida. E por fatores externos eu quero dizer coisas sobre as quais temos zero controle, como o tempo, até coisas sobre as quais temos controle, que vão variar de pessoa pra pessoa. Além disso, temos também o nosso tempo (minutos, horas, dias, anos) para processar o que nos incomoda. Não sou leviana a ponto de achar que basta ter noção de como nossa percepção influencia no nosso bem estar e que só isso será o suficiente para estar sempre bem. Talvez alguém consiga ser assim, eu certamente não sou assim. Mas cada vez mais escolho cuidar de mim, entendo que não basta só enxergar e falar sobre os problemas, é importante tomar o passo seguinte, o de decidir se são problemas reais e o que fazer com eles caso sejam. Pode levar tempo, tudo bem. Mas no momento que você entender que quem faz a sua estação do ano é você mesmo, o tempo ficará muito mais agradável. Faça chuva ou faça sol.





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