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Insatisfação


Tem gente que está sempre insatisfeita com tudo, com a política, com os amigos, com o companheiro ou a falta de, com o trabalho, com a família... reclamam de tudo e de todos, e mesmo quando alguma coisa muda, nunca é suficiente. Só têm olhos para as faltas. E a maioria desses “reclamões” só faz isso: reclamar. Acham que por estarem insatisfeitos, a vida de alguma forma mágica vai transformar tudo para ficar do jeito que querem, como nos contos de fadas. Se acham azarados, injustiçados e perseguidos. Esta é uma das formas de insatisfação.

A outra forma de insatisfação, da qual eu particularmente sofro, é a insatisfação que nos impulsiona pra frente, que nos incomoda tanto a ponto de querermos mudar alguma coisa (ou todas as coisas) até que fique do jeito que queremos (ou o mais próximo de). E, assim que atingimos um objetivo, lá aparece outra coisa incomodativa que nos tira a paz, nem que temporariamente, e faz com que nos mexamos de novo. A insatisfação do “está bom, mas pode ficar melhor!”. Da mudança, da conquista, da vida! Da alegria de olhar pra trás e ver o quanto você caminhou porque acreditou em você mesmo, acreditou que a sua vida poderia ser muito melhor e que você merece muito! E não só o que a vida oferece de bandeja, mas aquilo que você quer, pelo qual você luta. Esse trabalho é bom, paga as minhas contas, não me estressa... mas eu quero mais! Esse namorado é gente boa, não me perturba... mas eu quero mais! Só estando insatisfeitos é que pensaremos em mudar.

Também há aqueles que exageram na dose e estão sempre insatisfeitos e sempre mudando, sem nunca alcançarem nada próximo do ideal. Nem 8 nem 80: para tudo é necessário um balanço entre o real e o inexistente. Dentro das possibilidades de cada um e do universo em que vivemos, buscar algo melhor é o que tem feito a nossa espécie sobreviver e evoluir (mesmo que lentamente, devo opinar) ao longo dos séculos. Se estivéssemos satisfeitos com cartas, não teria estímulo para inventar os e-mails. Se estivéssemos satisfeitos em perder horas todos os dias cozinhando, não teríamos inventado a geladeira. Pô, se não ficássemos insatisfeitos com o frio nem o fogo a gente saberia que existia! Quando você compra uma casa nova, ela não precisa de manutenção um dia? As coisas mudam independente da nossa vontade, podemos sentar e olhar pro teto que se desfaz ou pegar a escada e pintar tudo de novo. E de novo. E de novo...

Eu ao longo dos anos escutei muitas “opiniões”, às vezes de pessoas próximas, às vezes de não tão próximas assim, de que eu era muito “gananciosa”, que “devia me contentar com o muito que tinha”, que não devia reclamar tanto. Ainda bem que não escutei nenhuma delas!!! Se tem uma coisa à qual sou grata na minha vida e que espero nunca perder, é minha insatisfação. Pois como disse Bernard Shaw, “Enquanto tiveres um desejo, terás uma razão para viver. A satisfação é a morte.” (“As long as I have a want, I have a reason for living. Satisfaction is death.”). E eu não pretendo morrer tão cedo... Por isso, um brinde à insatisfação!


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