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A mãe que eu quero ser

O meu objetivo de vida nunca foi ser mãe. Mas não quero dizer que não queria ser mãe. Só não tinha na maternidade um fim, como algumas mulheres, que sem nenhuma dificuldade dizem com todas as letras que largariam tudo para serem mães, ou para se dedicar exclusivamente aos filhos que já têm. Vejam bem, não há nada de errado com nenhum desses pontos de vista, apesar de muita gente nesse mundão de meu Deus ainda achar que toda mulher quer ser mãe, ou só está completa depois de se tornar mãe. Não é bem assim.


A minha prioridade na vida era ter uma vida. Fazer algo de que eu gostasse, fazer uma diferença positiva no mundo. Fazer muitos amigos, conhecer gente diferente, buscar o meu espaço. Assim que alcancei tudo isso, me surgiu o desejo de ser mãe. E agora estou comemorando o meu segundo dia das mães, na companhia da minha família tão amada.


Não vou aqui repetir o que disse no ano passado sobre o “dia das mães”, minha opinião ainda não mudou, e muito provavelmente não mudará. Este ano, vou contar um pouco da minha experiência com a maternidade, o que venho aprendendo e o que venho ensinando (ou pelo menos, tentando!).


Não, não é instinto. O instinto é o de sobrevivência. Minha própria e a da minha cria. Um impulso incontrolável de defesa, de conexão. Proteção com estímulo à autonomia e auto-suficiência, vá lá entender. Fora do instinto de sobrevivência, tudo é estudo. É ler livros de profissionais, é trocar ideias com outras mães, é observar outras famílias... E claro, o mais importante, observar a minha filha. Do que gosta, do que não gosta. Não, não tenho vergonha alguma de admitir que não sei o que fazer. É verdade. Na maioria das vezes, não sei o que fazer. E sabe mais o que? Quando eu descubro, entendo e lembro, a minha filha já mudou, já cresceu, já evoluiu, já tem outras necessidades. E voltamos à estaca zero, num movimento pulsante e crescente de... vida. Vida, minha, que se transforma e vai a lugares nunca dantes sonhados; vida, da minha filha, que vai se somando, fazendo sentido, desabrochando. Crescendo. Em tamanho e em sentimento, sempre crescendo.


De uma coisinha que tinha movimentos pouco firmes e titubeantes, a uma pequena criança que anda com confiança, mesmo a casa estando um breu. Com a confiança de conhecer a sua casa, e a mãe que tem. A mãe que nunca vai deixá-la sozinha nesse mundo, que a ouve mesmo quando o mundo está em pleno vapor, mesmo quando ambas dormem (mas quem levanta no meio da noite é o pai), mesmo quando nem estamos no mesmo ambiente. A mãe que antes dela subir para eventualmente cair, já tem a sequência de movimentos calculada para apanhá-la antes de encontrar o chão duro. A mesma mãe que a deixa cair de leve para que ela aprenda que se subir ali, pode cair e machucar. Contraditório, não é mesmo? Na verdade, não é não.


Enquanto a minha filha cresce, eu vou me descobrindo. Não é redescobrindo propriamente, é descobrindo mesmo. Porque eu não sabia que era capaz de nada disso. Não fazia a mínima ideia. E só consigo ter uma noção muito vaga do que nos espera pela frente. Mais coisas pra descobrir. E com isso, percebi que a melhor forma de ser uma boa mãe pra minha filha, é ser mãe de mim mesma. Entender os meus limites, as minhas dificuldades, entender que também preciso de colo e de estímulo. Confuso, não é mesmo? Na verdade, não é não.


A melhor parte do meu dia é quando sou acordada de manhã, aos gritos, com “mummy, mummy, mummy” vindo do quarto ao lado. Ela também ama e se sente segura com o pai. Mas a palavra que sai quando ela acorda é “mummy”. A segunda melhor parte do meu dia é quando olho nos olhos do meu companheiro e ele faz um aceno com a cabeça, significando que ela já dormiu. “Ai, Juliana, que coisa feia, você devia amar adorar aproveitar cada segundo com a sua filha”. Ei, podem ficar tranquilos. Amo adoro aproveito cada segundo. Morro de saudades dela à noite. Me sinto culpada por me sentir aliviada, de poder ter um tempo pra mim e pro meu companheiro ficarmos juntos, curtirmos alguns minutos juntos, com conversa de adulto. Mas adoro ter esses momentos só para nós dois. Estranho, não é mesmo? Pode até ser. Mas é verdade.


Adoro ouvir a risada dela. Risada marota. Aprendendo a ser engraçada. Vejam só. Tão pequena e já tão esperta. Não aceita comer com talher de criança. Quer os mesmos dos pais. O prato também tem que ser o mesmo. Ainda usa fraldas, mas precisa comer como gente grande. Que gostosura. Mas tudo bem, não vou obrigá-la a usar talheres de criança. Teremos muitas batalhas pela frente, não posso querer vencer todas, não é mesmo? Cedo na batalha dos talheres. Adoro quando nos preparamos pra tomar banho juntas e ela sai correndo pela casa sem roupa, dando gritinhos de felicidade. Gosto menos quando ela me chuta enquanto estou trocando a fralda suja de cocô, é necessário muita precisão. Meu coração aperta e a respiração fica mais difícil quando me despeço pela manhã, e ela começa a chorar. Todos os dias. Não quer acostumar. Na verdade, nem eu. Mas recupero o ar quando recebo um abraço gostoso no fim do dia, quando a vou buscar para ir pra casa. Que logo vira outra batalha, a de entrar no carro. Às vezes preciso ligar pro pai, pra que ela ao ouvir a voz dele, pare de gritar e chorar dentro do carro. Adora ver a mãe, mas não gosta de se despedir dos amigos. É, minha filha, deve ser genético, te entendo. Quando fala as palavras faltando uma letra. Ou todas as letras, e aí fica difícil de entender. Mas eu tento. Sempre tento. E, quando não consigo, peço desculpas. E dou um abraço.


Mais pra frente, não sei. Só sei que quero continuar assim, aberta, disponível, tanto pra ensinar quanto para aprender. Quero continuar aproveitando todos os minutos com ela, e quero continuar respeitando os meus momentos sozinha, ou com os meus próprios amigos, e principalmente, com o meu companheiro. Quero que ela continue fazendo parte de tudo na minha vida, que tenha a vida dela, e eu a minha. Pode parecer difícil... mas na verdade, não é não.

Feliz dia das mães!



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